Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com
sete anos de idade.
Está com quarenta, quarenta e poucos.
De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde
está a sua babá fazendo tricô.
Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo.
Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá.
Tem uma vaga lembrança daquela cena.
Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se
um homem e...
O homem aproxima-se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus
ombros e olha nos seus olhos.
Seus olhos se enchem de lágrimas.
Sente uma coisa no peito.
Que coisa é a vida.
Que coisa pior ainda é o tempo.
Como eu era inocente.
Como meus olhos eram limpos.
O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer.
Apenas abraça a si mesmo, longamente.
Depois sai caminhando, chorando, sem olhar pra trás.
O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta.
Também se reconheceu.
E fica pensando, aborrecido: quanto eu tiver quarenta, quarenta e poucos
anos, como eu vou ser sentimental!
Livro- COMÉDIAS PARA SE LER NA ESCOLA.
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